sábado, abril 09, 2005

UM FRUTO DA ÉPOCA

Vou andando de consciência tranquila, com o passo incerto e seguro de quem sabe aprender com erros e responder ao mal com o bem. Não sou sábio nem idiota porque sei pouco para um e demasiado para outro. Já me chamaram imaturo como se fosse insulto, mas fico feliz por assim ser tratado, uma vez que só a fruta madura se serve à mesa. Abençoado seja o ser que for tão imaturo como as crianças pois nele reside o futuro, sobretudo porque um presente é sempre algo que nos é dado, quer queiram, quer não. A diversidade conjuga-se sempre no plural da mesma forma que as boas redes têm muitos buracos. Os frutos maduros, apesar de saborosos, têm tendência a cair e apodrecer; outrora vigoroso e brilhante com a sua casca grossa e colorida, ele jaz agora indefeso no chão como outro qualquer vulgar detrito; no meio dos seus desperdícios nascem as árvores de outra estação e paradeiro, a vida povoa os locais mais insuspeitos e aninha-se no peito desprotegido. Algumas pessoas são como as nozes que só revelam o seu interior com uma pancada seca ou sobre pressão, outras ainda são autênticas bananas, são doces e moles por dentro e ainda por cima são fáceis de descascar. Entre a banana e a noz existe toda uma diversidade de durezas e sabores, feitios e cores. Todas as árvores dão fruto, todo o fruto dá em árvore, por muito vento que passe o moinho não para de girar nunca, tudo isto porque a água mais turva é a da margem.