sábado, abril 09, 2005

COM O FOGO FICOU DESVIRGULADO PARA O RESTO DA VIDA

Sigam-me apenas se não me quiserem seguir senão perdem-se logo a seguir é o que eu tenho a dizer a todos os cidadãos respeitáveis deste mundo e isto porque as ervas daninhas são danadinhas e têm de se arrancar pela raiz quadrada como se fossem dentes podres infectados com SIDA raivosa desenvolvida em laboratório pelos mais conceituados especialistas no campo da medicina com karaoke e bebidas ao balcão à beira mar plantado pelo construtor civil e militar obrigatório no sentido insensível do termo que não põe termo a esta teimosia tipicamente inventada recentemente e descoberta pouco depois junto ao local do crime organizado responsável pela situação preocupante da taxa de decrescimento acrescida de IVA do produto interno civilizado ocidental acidental devido a uma manobra de evacuação forçada pelos agentes da lei e desordem à venda no maior hipermercado da península Ibérica e arredores não submersos pela água do mar salgado como as lágrimas de crocodilo das botas da montra da loja chique onde se vendem produtos da mais alta qualidade e garantia até 3 anos com assistência paga em viagem num cruzeiro exclusivo aos paraísos tropicais perdidos na lotaria do natal dos hospitais sem capacidade de resposta à pergunta de 10 valores no teste de gravidade da gravidez psicológica tradicional da serra com 60% de gordura acumulada e regulador de acidez da chuva torrencial que fez prejuízos na ordem dos advogados do diabo que os carregue aos ombros debaixo de fogo amigo e companheiro de tempos passados a pente fino com a preciosa ajuda da tecnologia de ponta fina com recargas não incluídas nos portes de envio de tropas para locais estratégicos no cenário mundial de guerra localizada na extremidade inferior da maior montanha russa dos estados unidos para sempre pelos votos do sagrado requinte de uma tradição milenar que faz parte da cultura de massas italianas pré-cozinhadas que está em franca expansão tendo em conta os limites impostos pela união europeia de clubes de natação sincronizada ao milésimo de segundo e terceiro lugar no complexo desportivo de Édipo na margem sul do mar do norte.

CHÃO VARRIDO RIJO É

Ouve risos num andar mudo e escuta o silêncio
Por favor não me peças que eu te peça por favor
Eu sei que sonho alto, mas tenho medo de cair mal
Não consigo dizer o que quero e também não quero o que digo
O irracional tem a sua razão de ser em cada diferente maneira de ser
É fácil dizer que a vida é difícil, o que é difícil é torná-la fácil
Faço grandes planos para algo tão improvável como outra coisa qualquer
Os mamíferos são quentinhos e suaves ao toque como nós somos
Qual é a gravidade da lei de atracção dos corpos?
Se a sinceridade é sinal de fraqueza é porque as mentiras são fortes
Não acredites nas revistas pois começas a vestir-te com crateras
As mãos fazem muitas coisas mas só fazem o que lhes dizem
Abraço-me aos abraços que dão aos braços até à superfície
Todos os tamanhos e feitios estão enrolados no mesmo novelo
O vazio continua pacientemente com a sua espera no canto do sofá
Os fósforos só acendem com atrito e queimam dedos incautos
O calor seca as lágrimas mas os fósforos molhados não acendem
Um derrame de calor inunda de luz as faces ocultas pelas máscaras
Procuramos lá fora o que em nós se encontra tão perto
Os caminhos cruzam-se a qualquer momento diante dos nossos olhos
Mas as pessoas continuam a vestir-se com casacos de ferro
Todas as armas do mundo são feitas de plástico
Culpa-se o sistema mas quem tem culpa do sistema são as pessoas
Vejo o que quero ver e quero ver aquilo que vejo
Se digo o que me vem à cabeça é porque o que digo me vem da cabeça
O mundo está cheio de espelhos mas só alguns se vêm reflectidos neles
Unificados pela diversidade viajamos por sonhos de cimento
Se o que não é bom também não é mau então é porque é mesmo bom
A inteligência não é alta nem baixa, não é magra nem gorda
Quando se quer separar volta-se sempre a separar mais um bocadinho
Uma mão cheia de terra pode-se dividir em quantas partes?
Entre zero e um existem mais números do que os que se conseguem contar
Um palmo mede exactamente um palmo, nem mais nem menos
Somos todos meia pessoa e um reflexo dessa metade
As cabeças cortadas são as que mais mordem e arrancam cabeças
Sabe bem porque te disseram ou porque é bom para ti?
Se é bom para ti então não te deves sentir mal com isso
Se te faz sentir mal então é porque não deve ser bom
Tudo o que é doce também pode azedar como a chuva cai
Se o sumo de limão é amargo o melhor a fazer é juntar açúcar
Os cães perigosos também gostam lhes façam festas no pêlo
Tu fazes o que queres e só queres o que já consegues fazer
Será que tens consciência do que é ter consciência?
Quando nos rimos dos outros gozamos com nós próprios
Um ditador só é bom se for contra a sua ditadura
Muita gente cultiva arame farpado por baixo do cabelo
Quem é inconsciente nunca tem a consciência pesada
Quem muito se compara muito se repara e nem repara nisso
A higiene diária é um sintoma do nojo diário
Ninguém gosta de ser feio mas nem todos cuidam da aparência
Se as coisas boas se pagam o que é bom é o que se paga
A prostituição de luxo é um mercado com muita procura
Por dinheiro tudo se tem feito, tanto vidas como mortes
O dinheiro não se vende mas faz vender e também faz comprar
A incoerência é mais coerente que a coerência, quem não luta não perde
Se as guerras são irracionais porque é que têm sempre uma razão?
Tudo pode ter uma razão mas nada a tem, é emprestada
A lógica do cadeado tranca muitas portas e fecha muitas bocas
Existem marcadores que apagam e borrachas que escrevem
Os olhares cruzam-se entre caminhos paralelos ao eixo
Quem ataca é porque tem medo e não tem coragem
Alguns sobem pelas escadas enquanto outros preferem voar
Tudo o que é bom também se pode tornar num vício
Qualquer semelhança com uma ideia é pura coincidência
A escrita fluida escorre pelo ralo a gorgolejar ruidosamente
Eles esmagam cascas de ovos nas mãos e agarram fetos ao colo
As nossas pegadas esmurram os nossos desejos moribundos
Tu tens olhos para ver e eu também os tenho aos dois
A mudança é mais do que juntar água e meter no frigorífico
Quem espera por pedras atiradas para longe?
Nem só as moedas têm duas faces que se ocultam uma à outra
Uma pedra partida continua a ser uma pedra?
É mais sábio perguntar do que responder, não é?
A cada fechadura sua chave respectiva senão força-se a entrada
Podes esticar o braço mas nem sempre te agarram a mão
Todos os moldes fazem reproduções de quadrados
Há quem corte a sua própria cabeça enquanto pensa
Os cegos vêm à sua maneira mesmo quando é de noite
A surpresa da descoberta já nos é bem familiar
Uns destacam-se outros estão mais ou menos na média
Dantes os homens de palha chamavam-se espantalhos
A melhor maneira de ser vago é qualquer uma delas
Nas esquinas encontra-se sempre algo que se perdeu noutro lugar
O mel escorre devagar no queixo de quem não tem queixume
Um nó apertado, além de segurar, também prende
Os senhores de gravata cospem antes de agrafar
Quanto mais se varre o chão mais ele fica rijo

UM FRUTO DA ÉPOCA

Vou andando de consciência tranquila, com o passo incerto e seguro de quem sabe aprender com erros e responder ao mal com o bem. Não sou sábio nem idiota porque sei pouco para um e demasiado para outro. Já me chamaram imaturo como se fosse insulto, mas fico feliz por assim ser tratado, uma vez que só a fruta madura se serve à mesa. Abençoado seja o ser que for tão imaturo como as crianças pois nele reside o futuro, sobretudo porque um presente é sempre algo que nos é dado, quer queiram, quer não. A diversidade conjuga-se sempre no plural da mesma forma que as boas redes têm muitos buracos. Os frutos maduros, apesar de saborosos, têm tendência a cair e apodrecer; outrora vigoroso e brilhante com a sua casca grossa e colorida, ele jaz agora indefeso no chão como outro qualquer vulgar detrito; no meio dos seus desperdícios nascem as árvores de outra estação e paradeiro, a vida povoa os locais mais insuspeitos e aninha-se no peito desprotegido. Algumas pessoas são como as nozes que só revelam o seu interior com uma pancada seca ou sobre pressão, outras ainda são autênticas bananas, são doces e moles por dentro e ainda por cima são fáceis de descascar. Entre a banana e a noz existe toda uma diversidade de durezas e sabores, feitios e cores. Todas as árvores dão fruto, todo o fruto dá em árvore, por muito vento que passe o moinho não para de girar nunca, tudo isto porque a água mais turva é a da margem.