sábado, maio 14, 2005

POUCAS COISAS

À medida que vou escrevendo isto, que tu lês agora neste preciso momento, vou-me transformando, cada vez mais rapidamente, num saco de plástico, virado do avesso, despejando o meu conteúdo, aquele que me fizeram o favor de dar, como quem quer provar alguma coisa à custa da sua própria implosão invertida, ou seja, explosão. A explosão estremece e expele expressivamente estilhaços estúpidos que se espremem de uma forma estrondosa. Eu fico estupefacto e, de facto, assisto e dou assistência de fato e gravata. Se não arrisco arrisco-me a não petiscar o petisco, que olho de perto, mas separado, colado à montra de forma a deixar impressões digitais no vidro limpo minuciosamente pelo empregado em part-time. A imaginação leva-nos a tomar a decisão. O desejo do que virá persegue-nos de forma agradável e discreta. A jóia mais rara só brilha no escuro do fundo do mundo quando está coberta de lama. Abrimos janelas, portas, gavetas e caixas à espera de encontrar um coração vivo que não encaixa no jogo das bonecas russas. Lembro-me de ter pensado nisto antes, mas não o escrevi na altura, estava à espera de voar mais baixo. Insisto ou resisto na expressão da minha impressão sem nunca chegar a nenhuma conclusão relativamente à exposição decorrente da pressão exercida pelo alvo que sempre se falha e se volta a tentar acertar. Há maneiras de dizer isto muito mais simples e directas do que esta, mas poucas o referem. Quando os dedos começam a pesar escreve-se mais devagar. Vale a pena dizer isto porque o tacto é o mais subtil dos sentidos, como você deve saber. Os rebuçados mais doces derretem-se nas mãos e na boca, isto assim não é coisa pouca.