segunda-feira, maio 30, 2005

SEM TÍTULO PARA ALÉM DESTE

A esperança é a última coisa a morrer nas mãos de quem acaricia corações desfeitos por indefinição, só se podem desvendar se forem segredos e só podemos acariciar se não tivermos medos. Trabalhamos para esquecer a necessidade que temos de descansar aos pares, os burros de carga parecem convictos do seu destino até ao momento em que decidem parar. Eles param para não terem de carregar o peso da sua convicção, mais pesada que uma tonelada de carga e tão prisão que se torna solitária. Assim se faz um enredo para enganar o medo, assim se fica enredado nele. Messias e profetas reclamam a verdade enquanto duvidam da sua própria veracidade, querem-nos convencer da nossa falta de convicção e estendem a mão para nos agarrar a razão. Os burros profetas são teimosos na sua missão de conversão mas nada se perde porque tudo se transforma e nada se ganha porque tudo se deforma, quem empurra um burro sujeita-se ao coice. A calma simples de um olhar sereno e terno tem mais futuro do que a mais realizável das profecias. Queremos sorrisos, não queremos verdades. As gargalhadas são brutas e têm sempre algo de desprezo mas a alegria é muito mais suave do que isso. Os sorrisos derretem a verdade fria até à sua evaporação gasosa. Se errar é humano é porque amar é humanismo. Mão com mão se agarram então e os castelos ficam vagos para que se encha a alma. Nenhum sentimento se afigura nojento num momento que não passa. Por mais vazio que esteja o peito, ele transborda sempre daquilo que sente.