segunda-feira, maio 30, 2005

PODER, FAZER E ACONTECER

Acontecem-nos coisas estranhas que nos fazem pensar acerca da maneira como pensamos e agimos na nossa vida no mundo. As personalidades fazem duelos à nossa volta e dentro de nós. A forma de entretenimento mais difundida por estes lados é o jogo do poder. Submissos e dominantes, ambos se submetem ao poder. O poder é uma droga legal e obrigatória por imposição externa e interna. A alucinação da redução do medo é o que provoca a necessidade de redução do medo. Só o medo tem a coragem cobarde de provocar o terror. O poder aterroriza e o terror é poderoso. O poder corrompe porque rompe a corda que nos liga aos outros. O poder faz doer, corta. Anestesiamos a dor do corte de todas as maneiras impossíveis e racionais. O jogo provoca o medo da entrega, da nossa que nunca é exclusiva e da alheia que nunca o é. Fazem falta mãos dadas, mãos que se dão e se oferecem mas nunca se compram. O poder faz estátuas de pedra sem braços que sofrem com a alegria e se alegram com o sofrimento, mas no fundo, no fundo do mundo, a estátuas mentem e espetam facas nas suas próprias costas. É mais feliz quem se encosta do que quem vira as costas. A relatividade não deveria separar mas antes mostrar a relação entre tudo. O orgulho forma gerações de escravos capatazes incapazes de amar. A fraqueza divide os fracos dos fortes e conquista ambos. A necessidade de desejar mandar revela o medo da capacidade de amar. Quantos generais são precisos para que se acabem as balas? Quem se enche de temor quando ouve a palavra amor são os prisioneiros da armadilha da sua própria dor. Os fins e os meios esquecem as pessoas com demasiada frequência. A vida é o que faz dela quem por ela foi feito, ou aprendes com isso ou te prendes submisso. O poder é uma grande fraqueza, mas, felizmente, a carne é mais fraca. A vida é feita de escolhas e algumas delas provocam a morte, mas quem tem sorte engana a morte pelo amor que tem à vida. O poder matou o chato, falta agora matar o poder.